O SAMBA e o Banco Central: Como é Definida a Taxa de Juros?

 


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Esta não é uma resposta simples. São diversos modelos e análises feitas pelos economistas que ali dentro trabalham. O objetivo é seguir o regime de metas de inflação, definido pelo Conselho Monetário Nacional (composto hoje pela Tebet, Haddad e Roberto Campos). Os Estados Unidos já diferem do caso brasileiro. Além de meta para inflação, definem também uma meta para o pleno emprego. Não que o Brasil não olhe para o desemprego, dado que uma queda de inflação refletiria em uma queda em seu índice, fruto de uma redução da atividade econômica. Para definir o tamanho dos ajustes da política monetária e suas consequências, um principal modelo é utilizado, e com um nome curioso, SAMBA. Pena que aqui, não existe o jeitinho brasileiro e o molejo do samba, e sim muita matemática. De nada adianta gritarmos que queremos juros baixos. As consequências podem ser nefastas e elas são calculadas. Aos nerds leitores, recomendo a leitura do artigo do SAMBA, mas de nada se aproximará de Jorge Aragão ou Zeca Pagodinho.  

O Valor do Amanhã

Taxa de Juros nada mais é do que o “Valor do Amanhã”, título de um excelente livro de Eduardo Gianetti. Neste livro, ele apresenta ao leitor que juros nada mais são do que uma “personificação” do valor do futuro, fruto de algo maior. O tomador de um empréstimo, enxerga valor no presente, para pagar mais amanhã, enquanto o emprestador, abre mão do presente, para receber mais amanhã. Isto serve para tantos outros aspectos de nossa vida, como fazer faculdade, deixando de ter tempo de lazer para estudar (os juros aqui são o seu tempo gasto), visando uma melhor carreira à frente. Ou até mesmo, a decisão de fazer uma dieta, sacrificando o presente, para ter uma melhor estética ou saúde no futuro.

Costumo dizer que (quase) tudo tem um preço na vida. Os juros nada mais são do que o trade-off intertemporal do dinheiro, ou seja, o preço do dinheiro. Por isso, ele é tão importante. Se o dinheiro está caro, gastamos menos, poupamos mais, e consequentemente reduzimos os preços dos bens. A economia está toda conectada em torno dos juros. Por todo este valor do amanhã que representam, quem bate de frente em dizer que os juros são muito altos no Brasil e que o Banco Central está errado, deveria pensar... Mas o que os juros refletem? Nada mais do que o preço do amanhã no Brasil. Você confia no Brasil? Difícil, visto que até o passado é incerto neste país.

SAMBA

Curiosamente, um dos modelos seguidos pelo nosso Banco Central se chama SAMBA, ou Stochastic Analytical Model with a Bayesian Approach. Apesar do nome e das inúmeras equações complicadas que o compõe, é um modelo fácil de ser interpretado e não difere dos utilizados nas principais economias do mundo. O modelo avalia as diversas interações que existem na economia, sendo as principais, as decisões das firmas e das famílias. Uma firma contrata pessoas, que recebem salários, que consomem produtos, que pagam impostos, que o governo investe em políticas públicas, e por aí vai. Em tudo isso, adiciona-se a incerteza, o comércio internacional e a política monetária. E o resultado? Inflação, crescimento econômico, superávit/déficit fiscal, entre outros.

Ou seja, o SAMBA é um conjunto de equações que representa cada uma das decisões econômicas dos agentes e avalia-se o que por exemplo, um aumento de 1p.p. nos juros causaria em toda uma economia, das firmas às famílias, é incrível. Parte-se da Microeconomia para a Macroeconomia. Este tipo modelo surgiu em uma necessidade de contornar por exemplo, a curva de phillips. No qual, sempre a inflação corre na direção inversa do desemprego. Isto pode ser uma verdade em boa parte dos casos, mas é importante lembrar que as reações de empresas, governo e famílias, podem ser diferentes frente à distintos cenários, o que estes modelos dinâmicos tentam desvendar.

Resultado trimestral do aumento de 1p.p. na taxa de juros segundo o SAMBA - Inflação e Crescimento Econômico

Fonte: Revisão do modelo estrutural de médio porte – Samba (bcb.gov.br)

Dois pontos à se destacar segundo o exemplo acima: a inflação demora mais à sentir do que o produto e existe uma dissipação do efeito, tanto na inflação, quanto no produto. Este é apenas dois dos resultado que o modelo nos mostra em uma eventual subida de juros. O importante é que com este embasamento analítico, os membros do Copom possuem maior confiança em decisões de juros.

A partir deste e outros modelos (e opiniões qualitativas é claro), o Copom se reúne em 8 oportunidades ao longo do ano e define a taxa Selic, que embasa toda a economia e estabelece o Valor do Amanhã brasileiro. A comunicação também é de grande valia. A ata do Copom é de extrema importância para evitar grandes incertezas no mercado financeiro. A ideia do Banco Central, e o que ele segue, deve ser clara aos agentes (lembro que as pessoas reagem às expectativas). Mas claro que nem tudo são flores. A economia, sua digitalização ou a maneira como os agentes agem frente aos estímulos, mudam ao longo do tempo. Os Bancos Centrais nem podiam imaginar que a enxurrada de dinheiro após a pandemia, traria níveis inflacionários alarmantes na Europa e EUA. O Brasil, já acostumado com essa balbúrdia de preços, foi bem, e hoje já começa seu processo de queda de juros, de forma à evitar que a atividade econômica perca muita tração. De qualquer forma, isto mostra que é importante revisar tais modelos, conforme o mundo (des)evolui.

O caso brasileiro, apesar de bem resolvido recentemente (em minha opinião) pelo Roberto Campos Netos, enfrenta outros problemas. O populismo aqui, avança nas áreas mais técnicas de nossa economia. Lula briga semanalmente com o presidente do BC, o que não é uma novidade. E agora, temos medo da autonomia do Banco Central ser ferida, após termos indicados à diretoria membros totalmente alinhados com os anseios do governo. O que assusta é que em algum momento o atual presidente encerrará seu mandato e um novo indicado virá. Hoje em dia, ainda temos a preocupação adicional dos elevados gastos do governo, gerando déficits públicos que assustam o Banco Central. Se a SELIC for reduzida, será que o governo fará o seu papel e não gastará tanto, à ponto de impulsionar a inflação? A verdade é, mesmo com o SAMBA brasileiro, deve ser muito difícil decidir uma taxa de juros no Brasil.


Fontes

 O Samba dos juros | Eu & | Valor Econômico (globo.com)

Revisão do modelo estrutural de médio porte – Samba (bcb.gov.br)

O valor do amanhã, Eduardo Giannetti | Carlos Eduardo Moura (wordpress.com)

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