A teoria do Capital


Siga @expliconomics para este e outros artigos que ajudam à explicar a economia como ele realmente é

Do ponto de vista humano e sociológico, o que seria Capital? Para Pierre Bourdieu, muito além da riqueza financeira que Marx se referiu ao apresentar para o mundo sua obra e crítica ao capitalismo. Em 1977, o francês, ao estudar como as classes sociais se comportam, trouxe para nós a sua definição de Capital e Habitus. Neste artigo, trago um pouco mais sobre o assunto que remete à como a sociedade se organiza e como funciona (ou não) a transição social entre as camadas e até mesmo o sucesso financeiro. A teoria, criada por ele décadas atrás, é atual até mesmo nos dias de hoje, no qual as redes sociais impulsionam ainda mais o anseio de uma ascensão social.

Habitus

O francês, sociólogo e antropólogo primeiramente trouxe o conceito de habitus, algo bem diferente do que conhecemos por hábito. Este segundo se refere à atividades que realizamos automaticamente todos os dias, se tornando algo comum em nosso dia a dia. O primeiro, já é um conceito um pouco abstrato, mas que pode ser definido por internalizar o externo. O externo seria a sociedade e o interno as nossas ações. Determinadas classes sociais determinam o comportamento das pessoas desde que nascem. Esportes como polo ou hipismo por exemplo, são esportes de ricos. Enquanto futebol, é considerado um esporte de pobres. Ou seja, o menino ao nascer em um bairro pobre, dificilmente se interessará por algo diferente de futebol, estando condicionado ao que toda a sociedade e a família lhe impulsionam. Ou seja, suas ações internas, gostos, preferência, maneira de falar, são moldados pela história e pela sociedade.

Transgredir o habitus é algo bem difícil. Ver um jogador de futebol profissional que não veio de origem humilde é difícil por exemplo. Afinal, famílias com condições sabem o quão difícil a vida do futebol é, e recomendam os estudos como uma alternativa mais viável. Por outro lado, sem enxergar o que o estudo pode trazer, famílias pobres enxergam no futebol a alternativa mais viável. Somos condicionados desde que nascemos. Em primeiro lugar, pela nossa família e em segundo lugar pela educação. Na escola quebramos algumas das doutrinas e opiniões criadas dentro de casa, e por isso a educação é importante, indo muito além do que apenas ensinar matemática ou física.

O Capital segundo Bourdieu

Segundo o sociólogo francês, o capital do ser humano vai muito além da riqueza financeira e pode ser dividido em três:

1.      Capital financeiro

2.      Capital cultural:

a.      Internalizado

b.      Objetificado

c.      Institucional

3.      Capital social

Capital financeiro é autoexplicativo. Todos os recursos que um indivíduo acumula em sua vida. O capital cultural já é algo diferente. Remete à atributos que não podem ser traduzidos em unidades monetárias. O internalizado por exemplo, é tudo o que o habitus traz, conforme explicado anteriormente. Remete aos costumes, por exemplo, viagens, maneira de se portar em um jantar, até mesmo um linguajar mais sofisticado. O objetificado vem de objetos adquiridos que simbolizam uma ascensão social. Por exemplo, arte. Ter quadros raros e famosos vai muito além do valor financeiro. Isto é um tipo de Capital que lhe permite ascender e fazer parte de um grupo seleto de pessoas. E por fim, o capital institucional. São títulos, como por exemplo, ter feito uma graduação em Harvard, ou ser um médico. Médicos são mais prestigiados do que Administradores, por exemplo. Quem nunca escutou em um jantar de família? O sobrinho está fazendo medicina... E todos reagem com admiração. A última categoria vem das conexões. Ter contatos, lhe confere capital social. Alguém consegue chegar a lugares com algumas poucas ligações, e isso tem valor dentro da sociedade.

Os exemplos que utilizei, servem notoriamente para classes sociais mais elevadas. Mas o que vale em uma “quebrada” de alta criminalidade? Ter uma arma, ser amigo do traficante dono do morro, ter um carro bacana ou ser ladrão de motos de luxo. Neste caso, ser um trabalhador “comum” não te confere uma ascensão dentro desta sociedade. Uma coisa que percebo é que ao se igualar os recursos financeiros ou quando o incremento marginal da renda é insignificante, como quando um bilionário ganha 1 milhão a mais, o que importa é ter mais poder, ou seja, o que está incluso no capital cultural ou social.

Conclusão

Tudo isto se soma e garante o local da pessoa na sociedade. Não basta ter recursos financeiros se os outros capitais não se somarem. Assim como é possível notarmos pessoas vivendo a vida de outras classes sociais, ou tentando a todo momento estar inserido em um lugar que dificilmente seriam aceitos. Um exemplo disto? O mundo das celebridades. Quantos não buscam aquele 1 segundo de fama ou estarem inseridos nos mesmos locais que os famosos frequentam, na esperança de serem notados. O modelo de Pierre mostra exatamente isto. Tudo se resume à Capital, no sentido amplo da palavra. Ter contatos por exemplo, lhe fazem ser alguém querido, e lhe ascende socialmente, assim como possuir títulos ou experiências. Ao visitar Mykonos no verão ou Aspen no inverno pode-se facilmente encontrar famosos ou jogadores de futebol, mesmo você não sendo nenhum dos dois.

As redes sociais ainda surgiram para amplificar esta teoria que data de décadas atrás. Com a exposição da vida na internet, o capital cultural muitas vezes é apenas uma máscara. A pessoa tem uma BMW, mas mora de aluguel. Não digo que isto está certo ou errado, mas que simboliza tudo o que esta teoria nos diz sobre as classes sociais. Ter o carro do ano é mais importante do que morar bem, afinal, todo mundo vê.

Fonte

cultural-reproduction-and-social-reproduction.pdf (wordpress.com)

Outline of a Theory of Practice (cambridge.org)

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Brasil e PIB: como se calcula a riqueza de um país

Um pouco do setor elétrico no Brasil