Brasil e PIB: como se calcula a riqueza de um país


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O indicador PIB foi criado em 1937 com o intuito de medir a riqueza e as oscilações de uma economia. Diríamos que hoje é a principal mensuração e base comparativa entre países, apesar de não a única. Quando olhamos este indicador para o Brasil, vemos a grande aceleração ocorrida ao longo dos anos 2000, seguindo para uma crise em 2014 (que não existiu segundo a Dilma) e finalizando no COVID e Pós-Covid. Além disso, notamos uma forte dependência do consumo das famílias e por isso as medidas governamentais de incentivo ao crédito que sempre vemos, além de nosso Ministro da Fazenda a todo tempo ressaltar que o Banco Central precisa fazer a parte dele. Neste artigo explico como se calcula esse famoso indicador, além de seu irmão PNB (Produto Nacional Bruto), e trago os últimos dados do Brasil.

Crescimento % do PIB real por trimestre (a.a.) 

 


Fonte: IBGE

Maiores PIBs do mundo (US$ Tri 2023) – Estados Unidos e China muito a frente do restante das nações, sendo o PIB dos EUA cerca de 10 vezes maior que o PIB brasileiro. Mesmo assim, o Brasil se situa entre os 10 primeiros, próximo à Canadá e Itália


Fonte: FMI

PIB e PNB

Inicialmente, vamos deixar claro o que é PIB. O significado é Produto Interno Bruto, ou seja, tudo o que é produzido internamente no país. Existe um outro indicador para a mensuração econômica, mas muitos nunca ouviram falar, o PNB, Produto Nacional Bruto. A diferença entre eles é basicamente que o PNB, considera também a produção de empresas nacionais em solo estrangeiro. Ou seja, empresas brasileiras com filiais no exterior, como a Vale ou Embraer, contabilizam suas produções em outros países no PNB. Este componente é chamado de Renda Líquida Enviada ao Exterior (RLEE).

PIB = PNB – RLEE

Países desenvolvidos costumam ter PNB maior que PIB, por conta da transferência de recursos de volta ao país de origem das empresas. Como exemplo, temos diversas empresas de fora do país que atuam no agronegócio brasileiro, e portanto, estes recursos na ótica do PNB não são do Brasil, e sim do exterior. Apesar disto, convencionou-se utilizar o PIB, sendo tudo o que é produzido internamente no território do país.

O PIB, pode ser calculado de algumas formas e naturalmente pode se imaginar a dificuldade de consolidar esse indicador. São três, ótica da oferta, do rendimento e da demanda. O mais usual é o último.

Ótica da Oferta


PIB = VAB (Valor Adicionado Bruto) de todas as empresas na economia + (Impostos – Subsídios)


Ótica do Rendimento


PIB = Remuneração do trabalho + Excedente de Exploração


Ótica da Demanda


PIB = Consumo das Famílias + Despesa do Governo + Investimento + (Exportação – Importações)


Os dados para ótica da demanda são relativamente mais fáceis de se encontrar. Assim como muitos sonegadores de impostos são pegos pelo consumo incompatível com a receita, aqui é a mesma coisa. É “mais fácil” observar os gastos. Mesmo assim, as três óticas deveriam trazer o mesmo valor. Assim como uma empresa possui créditos e débitos, que geram rendimentos, para um país é a mesma coisa. 

Dificuldades são diversas nos cálculos, como qual o valor da digitalização da economia? Como exemplo, quanto vale o aplicativo whatsapp e como mensurá-lo dentro do PIB? Difícil, afinal é algo gratuito, mas o valor dele é imensurável. Além disso, atividades criminais ficam de fora. Seria o Brasil o maior PIB do mundo se o tráfico de drogas fosse computado como um todo? Hahaha. Por isso, o PIB não deve ser a única métrica a ser utilizada. Isto porque nem tudo que tem valor para uma economia pode necessariamente ser mensurado, como o trabalho não remunerado realizado dentro das residências. Além disso, o valor gerado na economia informal muitas vezes também fica de fora.

Ou seja, por mais que seja sabido que possui suas limitações é o melhor que temos até hoje para se ter um parâmetro de riqueza de um país. Inclusive, foi criado em 1937 por Simon Kuznets, de maneira à existir alguma mensuração para a economia dos países. Em 1929, por exemplo, é sabido que a famosa crise foi devastadora para as nações e mercados financeiros, mas ainda não existia um índice capaz de capturar com maior acurácia o tamanho do problema. Hoje, vivemos uma outra ótica, a do bem estar, igualdade e da felicidade, que certamente não podem ser medidos pelo PIB, e portanto, outros indicadores passarão a ter relevância com o tempo.

PIB Brasil

Agora vamos ao PIB brasileiro. Abaixo os números por Oferta (Valor Adicionado) e pela demanda. Ambos os dados divulgados pelo IBGE. Como é possível ver, somos um país de serviços e de demanda doméstica. Por isso o crédito às famílias é tão importante no país, impulsionando o consumo doméstico de produtos e serviços. Enquanto isso, o investimento deixa à desejar. O problema disto vem dos ciclos econômicos, que em cenário de alta de juros e crises, o consumo das famílias cai significativamente. 

PIB – Ótica da Oferta (Valor Adicionado)

 

Fonte: IBGE

PIB – Ótica da Despesa


Fonte: IBGE

Observando o lado da oferta, nosso PIB provém principalmente de serviços. Temos uma indústria estagnada, que a última grande revolução industrial brasileira data da época de nossa ditadura militar. Desde então, com o comércio internacional, perdemos espaço para outras nações do mundo, que possuem maior produtividade que nós. As causas da produtividade baixa são diversas, desde a baixa qualificação, passando pelo eterno regime de desoneração de folha, até a nossa querida CLT. 

Por mais que o percentual seja baixo na composição do total, o agronegócio vem sendo muito importante no crescimento do PIB com taxas de dois dígitos nos últimos trimestres. Além disso, traz valor para fora dos grandes centros, movimentando a economia do interior do Brasil e de estados como Mato Grosso e Tocantins. Este primeiro, inclusive figura em segundo lugar no ranking de PIB per capita por estado, ficando a frente inclusive do Estado de São Paulo.

% PIB por estado (2021) – Sob esta ótica, o PIB do Estado de São Paulo desponta pela concentração da capital financeira do país e de um interior forte no agronegócio


Fonte: IBGE

PIB per capita por Estado em R$ (2021) – Em comparação com a tabela anterior, podemos notar uma grande diferença pelo tamanho populacional dos Estados


Fonte: IBGE

As duas tabelas anteriores trazem uma ótica dos Estados que apenas nos mostra um pouco da desigualdade que nosso país apresenta. Apenas do Espírito Santo para cima, temos um PIB per Capita acima da média brasileira, ou seja, apenas 9 estados dos 27. Sendo que o Maranhão apresenta PIB per Capita de cerca de 40% da média nacional. A verdade é, o Brasil é rico, mas desigual.

Este último ponto traz a conclusão sobre este texto. Com tudo apresentado, fica nítido que o PIB não deve ser a única mensuração para o sucesso econômico, apesar de ser o mais usado. Devemos observar as suas limitações, principalmente quando o assunto são as políticas públicas.


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