Teoria dos Jogos: "controle o Petróleo e você controlará as Nações"
Nesta semana, uma notícia me chamou a atenção. Com a nova formação dos BRICs, o bloco econômico será responsável por 80% da produção de petróleo do mundo. E o que os Estados Unidos e Europa farão? No tabuleiro global, agora é a vez de eles decidirem o que fazer. A Teoria dos Jogos, personificada em John Nash, pode ser utilizada para entendermos este e outros tantos problemas, passando por decisões de marketing de empresas, à confissões de crimes e leilões de bens materiais. Uma importante organização também é fruto de um jogo, a conhecida Opep (organização dos países exportadores de petróleo). Fundada em 1960, visa regular o mercado de petróleo, controlando a produção e os preços do mercado internacional. O engraçado é que cartéis são proibidos em boa parte do mundo, mas para o controle do petróleo não. Veremos mais à frente o porquê disso.
“Controle o petróleo
e você controlará as nações; controle a comida e você controla as pessoas.” –
Henry Kissinger
John Nash e o Equilíbrio
O filme "Uma Mente Brilhante”,
retrata a vida do Matemático John Nash (recomendo). Em uma cena do filme,
em que ele se encontra em um bar com os amigos, ele “descobre” a sua teoria do
Equilíbrio de Nash. Na verdade, a cena fantasiosa, onde os homens decidem com
qual mulher irão conversar (e todos interessados em uma delas) não é muito bem
o que ele criou, mas possui alguns elementos importantes. Os principais deles,
que a vida pode ser reduzida à um jogo não-cooperativo e que se todos tomarem
sua decisão sem pensar no que o oponente fará, podem não maximizar sua
utilidade. Tudo na vida é um jogo, ou seja, pense antes de cada decisão ou estratégia e avalie os payoffs (benefícios). Claro,
parte da teoria é pautada na ideia de que os agentes econômicos são racionais,
o que nem sempre é verdade (ao longo do tempo, os estudos caminharam para uma
racionalidade limitada dos agentes, culminando boa parte nas teorias de
economia comportamental).
Ganhador do Nobel, Nash cria em
1950 um modelo geral matemático para análise de jogos, surgindo assim o Equilíbrio
de Nash. Tal conceito tem sua ideia básica na qual um jogo está em equilíbrio
quando cada um dos agentes está tomando a melhor decisão que poderia, em função
do que o outro agente estiver fazendo. Ao escolher a estratégia definida, os
agentes não possuem incentivos em mudarem sua decisão, encontrando-se
assim em equilíbrio. Abaixo um exemplo que deixará tudo mais claro.
Dilema dos Prisioneiros
Matriz de payoffs dos
prisioneiros envolvidos no Jogo – Anos de cadeia
Fonte: O teorema de equilíbrio de
Nash
No Dilema dos Prisioneiros temos
a seguinte situação. Dois prisioneiros são suspeitos de cometer um crime em
conjunto e são colocados em salas separadas. Ao serem questionados se cometeram
o crime, podem confessar ou negar. Se ambos negarem, cada um terá 1 ano de
prisão e se ambos confessarem, cada um ficará 3 anos na cadeia. Se um confessar
e o outro negar, o que negar é altamente penalizado pela mentira, levando 10
anos de punição, e o outro sairá livre. Qual estratégia prevalecerá? Dado que
eles não podem cooperar, ambos escolhem confessar, sendo ela a estratégia
dominante e também um Equilíbrio de Nash. Nenhum dos dois tem incentivo em
mudar sua estratégia, dado que o outro prisioneiro escolherá também confessar, e se negar levará 10 anos de cadeia. Mas,
perceba que seria melhor para ambos negarem, se eles conseguissem se conversar.
Ou seja, não é o melhor para os dois, mas o medo do que o outro fará e a
incerteza, leva aos prisioneiros não escolherem o ótimo global e sim o melhor condicionado
ao que esperam do outro.
A Tragédia dos Comuns, dilema
abordado em meu último texto, pode-se utilizar da mesma metodologia aplicada
aqui. As pessoas correram atrás de combustível na greve dos caminhoneiros, pois
todos as outras também correram, atingindo o Equilíbrio de Nash. A poluição, a
mesma coisa, eu poluo, porque outros vão poluir. Esta metodologia matemática e
de expectativas, nos ajuda a entender tudo, ou quase tudo, dos processos
decisórios. Para isso a regulação aparece (ou deveria aparecer), de forma à
trazer a economia e sociedade mais próximas de seus ótimos globais (o melhor
para todos).
Opep e Opep+
À época de seu surgimento em 1960*, as grandes empresas norte-americanas dominavam o mundo geopolítico do petróleo, forçando os outros países à tomarem uma atitude... Mais uma vez a Teoria dos Jogos entra em campo. Hoje temos muito mais capacidade de produção de petróleo do que consumimos. A questão é que as reservas serão consumidas ao longo do tempo, mas se todos os países decidirem por produzir tudo o que conseguissem, o preço valeria zero ou até mesmo negativo. Desta forma, surge a Organização dos Exportadores de Petróleo. Afinal, se todos seguissem a lógica do equilíbrio de Nash, valeria produzir mais, dado que o outro produziria mais, fazendo o preço cair... Será quase sempre melhor produzir mais, até que o mercado colapse, sendo ruim para todos no longo prazo. Ou seja, temos o mesmo problema que o Dilema dos Prisioneiros. Por isso a cooperação é vantajosa neste caso.
*Em 2017, outros países foram convidados à fazer parte, incluindo a Rússia,
formando a Opep+, mais uma maneira de fazer frente aos interesses norte-americanos.
A Opep possui cerca de 80% das
reservas provadas de petróleo no mundo, mas boa parte se encontra na Venezuela,
que possui qualidade inferior
|
Reservas Provadas de Petróleo (mb) |
|
Venezuela |
303.221 |
19% |
Arábia
Saudita |
267.192 |
17% |
Irã |
208.600 |
13% |
Iraque |
145.019 |
9% |
Emirados
Árabes Unidos |
113.000 |
7% |
Kuwait |
101.500 |
6% |
Líbia |
48.363 |
3% |
Nigéria |
36.967 |
2% |
Argélia |
12.200 |
1% |
Angola |
2.550 |
0% |
Gabão |
2.000 |
0% |
Guiné Equatorial |
1.100 |
0% |
Congo |
1.811 |
0% |
Outros
(Não-Opep) |
320.918 |
21% |
A Opep hoje abrange 13 nações, e possui
cerca de 80% das reservas provadas e cerca de 40% da produção global. Em um
mundo ainda movido à gasolina e diesel, podemos dizer que eles controlam boa
parte do mundo. O interessante, é que mesmo dentro de um acordo de cooperação e
cotas de produção, a Teoria dos Jogos ainda permanece acesa. Será que alguém
vai desviar do acordo? Não cooperar com a Opep, seria muito vantajoso, pois o
preço é artificialmente alto e se eu for um país que consiga dobrar minha
produção, faria muito dinheiro se aproveitando dos outros membros. Ao redor de
1982 - 1985 isto ocorreu. Diversos países fugiram do acordo, aproveitando de
uma subida dos preços, e apenas a Arábia Saudita permaneceu cumprindo suas obrigações.
Mas quando o país desistiu de segurar os preços, o petróleo caiu cerca de 50%. Isto
mostra que a matriz de payoffs de cada um dos países deve ser alterada
de forma à trazer desincentivos à não-cooperação. Multas, retaliação ou falta
de acesso à compradores fiéis da Opep devem fazer parte, de forma à garantir
que a cooperação seja o chamado Equilíbrio de Nash (forçado), evitando assim mais uma
Tragédia dos Comuns.
Exemplo de momentos de ação da
Opep no mercado – Preços automaticamente se alteram
Fonte: OPEC's Influence On Oil Prices
Waning (forbes.com)
Fontes
BRICs – 80% da produção global
After expansion, BRICS to control 80
pc of global oil production (siasat.com)
Base de dados Opep
Teorema de Equilíbrio de Nash
mat_pedro_henrique_castro_simoes.pdf
(puc-rio.br)
Momentos de ação da Opep
OPEC's Influence On Oil Prices
Waning (forbes.com)
Dilema dos Prisioneiros
Non-Cooperative Games - John Nash
Non-Cooperative Games on JSTOR
Cartel
de petróleo está de volta e disposto a evitar queda de preços
(redebrasilatual.com.br)
A instabilidade dos cartéis
sob a ótica da teoria dos jogos: um estudo sobre a Opep
Nash Equilibrium and the History of Economic
Theory
Teoria dos Jogos e Opep
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