Nudge (Sludge): ajudando pessoas a tomarem decisões corretas (ou não)


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O conceito de nudge foi desenvolvido por Richard Thaler e Cass Sunstein em 2008, junto da publicação do livro de mesmo nome. A tradução para o português seria de “empurrão” ou “incentivo sutil” como o elefante empurra o filho na imagem acima, que não implica em uma obrigatoriedade. O uso de empurrões (nudges) seria utilizado em políticas públicas de forma a levar indivíduos às melhores decisões quanto sua saúde, dinheiro, entre outros. Sendo mais um conceito atrelado à economia comportamental, atua na lacuna da decisão racional dos agentes econômicos, que precisam de nudges para não serem tão irracionais e tomarem decisões mais corretas, por exemplo, não fumar. 

Como exemplos dos empurrões, nos supermercados dos Estados Unidos, dado o alto consumo de leite no passado, o mesmo ficava na última parte das lojas, obrigando à todos passarem por diversos corredores de produtos atrativos e caros. Deixar balas e doces no caixa também se encaixa no perfil, trazendo o consumidor à compra por impulso, de algo que chame a atenção. Os shoppings centers também norteiam o consumidor e projetam suas escadas rolantes de forma à obrigar que você passe pelo maior número de lojas sem ficar bravo (o que reduziria sua propensão à compra). 

Segundo os autores, este empurrão deve seguir princípios éticos (mas a linha é tênue), com objetivo de auxiliar o indivíduo. Apesar disto, o oposto também ocorre. Empurrões que não visam auxiliar o consumidor da informação, e sim prejudicar. Richard e Cass chamam isto de sludge. Recentemente, a contribuição sindical nos exemplificou o caso, que será tratado adiante.

 

Fonte: LIVROS | NUDGE (negociacao360.com.br)

O poder do default

Default nada mais é do que a escolha padrão ou pré-determinada, se encaixando como um nudge. Por mais que não pareça tão determinante para os resultados, na verdade é. Abaixo, um dos gráficos mais importantes para entendermos o tema.  Aparentemente, pelos resultados, o Alemão e o Austríaco possuem diferentes preferências em relação à doações de órgãos. Mesmo que façam fronteira e falem praticamente a mesma língua, o alemão é muito menos altruísta que o austríaco? A primeira lição é, analisar os dados, visto que correlação não é causalidade. O segundo ponto, vem do nudge, que nesse caso é representado pela decisão pré-determinada ou default. Nos países em laranja, o cidadão deve proativamente se declarar doador de órgãos, preenchendo formulários e passando por diversas burocracias. Nos em azul, o contrário ocorre, todos são doadores, ao menos que deixem claro que não querem ser, passando por toda a burocracia de se declararem não doadores. 

Percentual de consentimento na doação de órgãos por país - Enorme diferença é fruto de opções default

Fonte: Livro Nudge


É nítido o poder do default. Para um indivíduo tomar uma ação, por mais que seja bom para ele ou para a sociedade, precisa de empurrões ou incentivos implícitos. Neste caso, a burocracia em se tornar doador nos países em laranja, reduz muito o percentual de pessoas cadastradas. Mesmo assim, o mais intrigante de toda essa história, é que por mais que o número de doadores consentidos seja muito maior nos países em azul, não necessariamente significa que esses países tenham menor mortalidade ou que de fato tenham mais órgãos doados. Agora provavelmente você está lembrando de diversos casos no qual o default lhe foi apresentado, em produtos, decisões de investimento, estradas e em todo nosso dia-a-dia na verdade. 

Sindicatos 

Recentemente, no STF, voltamos a discutir o imposto/contribuição sindical... Chame como quiser. A verdade é que tudo indica que ele voltará, onerando (ou não, vai do que você leitor pensa sobre os sindicatos) o trabalhador em 1 dia de salário. A questão, é que o default será a contribuição e o trabalhador deverá expressamente declarar que não gostaria de contribuir. Problema... a formalização deverá ser feita de maneira presencial na sede dos sindicatos. O que acontecerá? Boa parte das pessoas pagarão, pela dificuldade em se optar pelo não pagamento. A diferença é que na linguagem técnica de Thaler e Stein, o nome disto é sludge, empurrões que dificultem ou que não busquem a satisfação do indivíduo impactado, ou seja, o oposto do nudge, ferindo princípios éticos.

Nudges

A questão maior e o quanto eu gosto deste tema, é que muitas vezes o uso de nudges geram efeitos tão bons quanto políticas intervencionistas do estado. Conscientizar sobre o cigarro e incentivar a prática de esportes surte eventualmente mais efeito do que uma subida do preço dos cigarros ou da proibição total. Segundo Thaler e Sustein, decisões que envolvam escolhas intertemporais, como fumar (que lhe causa um prejuízo no futuro) ou economizar via previdência, são candidatos à nudges. Isto porquê, o efeito é de longo prazo e fica difícil precifica-lo, levando o indivíduo à ter dificuldade em escolher a melhor decisão hoje e para isso ele precisa de um empurrão. Quem não se lembra do glamour de se fumar um cigarro tempos atrás, enquanto hoje em dia placas e alusões ao prejuízo à saúde são constantes (inclusive atrás dos pacotes). Meus únicos pontos sobre o assunto, vem da ética e como é utilizado para nos “enganar”. Recebemos hoje notificações o dia todo no celular para nos levar à utilizar mais as redes sociais ou adquirir produtos, nos viciando e levando à compras por impulso. Isso é errado? É discutível. De qualquer forma, cuidado, pode ser um sludge.

Fontes




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