O País do Futebol: Você compraria uma ação do seu time do coração?
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E aí, se seu time fosse uma empresa, você compraria a ação dela? Ou seja, você seria sócio do seu time do coração visando o lucro? Pergunta difícil, dado que envolve emoção e razão, algo que nem sempre caminha lado a lado. A verdade é, o esporte, e especialmente o futebol, possui muito dinheiro envolvido. No Brasil então nem se fale. Conhecido como o país do futebol, exportamos jogadores para o mundo todo, o que impacta positivamente tanto nossa balança comercial, como a vida de brasileiros que vivem do futebol. Por outro lado, mostra um cenário de perda de talentos, que são lapidados fora do país, evitando um maior desenvolvimento de nossos campeonatos. E quais as razões? São as mais diversas, como a incapacidade de fazer frente às cifras da Europa e Oriente Médio, nosso câmbio altamente depreciado e a falta de gestão dos clubes. Este artigo, foge um pouco dos últimos feitos por mim, mas traz números de um setor igualmente importante para a economia brasileira e pretendo mostra um pouco mais dele, com números e cifras.
O Brasil do futebol em números
Relatório feito pela EY, em parceria com a CBF, apontou que o futebol, em toda sua cadeia, movimentou cerca de R$52,9 Bilhões em 2018. O mesmo número se traduz em cerca de 0,72% do PIB, um valor que não pode ser desconsiderado. O dinheiro movimentado vem de patrocínios, receitas e salários. Este último ponto tem um porém, o sonho e a desigualdade. Quando vemos na televisão jogadores bem sucedidos e famosos, dificilmente nos damos conta que estes são apenas uma parcela ínfima dos mais de 20 mil atletas. Segundo o mesmo relatório, cerca de apenas 3% recebem acima de R$50.000 por mês e cerca de 55% recebem menos de R$1.000 por mês, inferior a um salário mínimo. A realidade é dura para um jogador de futebol e aparentemente, vale mais a pena estudar. Digo aparentemente, porque sabemos que o acesso à educação é complicado no país.
Um ponto interessante que até então eu não vi tantos artigos científicos que tratem sobre o assunto, mas por que o Brasil produz tantos craques e tão habilidosos? Seria uma questão cultural, econômica ou fisiológica? Este tema daria uma bela tese de doutorado e infelizmente eu não tenho a resposta, até porque se eu tivesse, venderia ela. Alguns autores, através de estudos (um dos poucos artigos que encontrei), é que a pobreza no Brasil cria sim este contexto onde facilita o surgimento do talento em detrimento da educação, no qual o futebol se transforma em uma oportunidade de ascensão social. Mesmo assim, não explica tudo, tem algo mais, algo cultural ou até mesmo etnográfico. Difícil saber.
A verdade é, somos a maior fábrica de jogadores do mundo, e os dados provam isso. Em acompanhamento realizado pelo CIES Football Observatory, até Maio de 2023, o Brasil apresentava 1.289 jogadores de futebol expatriados (dados datam desde 2017). O principal destino? Portugal. Em terceiro lugar, vimos a Argentina, que diferentemente do Brasil exporta muito para a América do Sul, como para o Chile, evidenciando a facilidade da língua nestas transações. O problema desta expatriação a meu ver é perdemos talentos muito cedo, fruto da atratividade do exterior e falta de gestão dos clubes, afinal, eles precisam muito desta receita. Receita esta que também impacta nossa balança comercial. Segundo o CIES, em 10 anos o país faturou cerca de R$14 Bilhões em transferências para o exterior.
Sandro Orlandelli, diretor-técnico que esteve por mais de uma década em clubes como Arsenal e Manchester United, destaca os fatores que podem contribuir para a dominância brasileira na exportação.
- A matéria-prima brasileira ainda é a melhor no mundo. Analisei jogadores por mais de 20 anos, em 97 países diferentes, e nenhum deles oferece o que temos no Brasil. Sempre teremos jogadores de muita qualidade que irão se destacar lá fora, em todos os continentes, e a Europa sempre vai estar interessada nos atletas produzidos aqui - explica Orlandelli, que também soma passagens por Internacional e Seleção Brasileira.
Mercado Interno
Recentemente, vimos um interesse maior no futebol brasileiro com as SAFs. Cruzeiro, Atlético-MG, Bahia são alguns dos exemplos de clubes que se tornaram empresas. Mas aí eu pergunto, você compraria seu time do coração? Pegando como exemplo os 4 grandes clubes paulistas, vamos aos números dos Demonstrativos de Resultados de 2022 e 2021 apenas para o Futebol (excluindo os números dos Clubes Sociais). Antes de mais nada, a comparação é bem complicada, pois cada balanço é de um jeito e possui muitas categorias diferentes. Tentei ao máximo trazer os números da maneira mais comparável possível.
Receitas, Despesas e Resultado Financeiro (R$ Milhares) – Palmeiras apresenta a maior receita dentre os times, puxada em 2021 principalmente por premiações, além de melhor resultado financeiro em 2022, mostrando a sustentabilidade financeira do clube
Receita de Direitos de Transmissão (R$ Milhares) - Corinthians lidera os números de receitas com direitos de transmissão e foi único clube que aumentou o valor de 2021 para 2022
Fonte: Balanço Patrimonial dos clubes
Receita com vendas de jogadores (R$ Milhares) – São Paulo lidera a lista, principalmente devido à transferência de Antony do Ajax para o Manchester United, que rendeu ao clube cerca de R$75MM
Fonte: Balanço Patrimonial dos clubes
Superávit/Déficit do Futebol dos clubes (soma de 2021 e 2022 em R$ Milhares e Margem vs Receita) - No acumulado de 2021 e 2022, o Palmeiras lidera em resultado e margem, ultrapassando os R$200 Milhões de reais e com a maior margem vs Receita
Fonte: Balanço Patrimonial dos clubes
Mesmo com maiores despesas, é possível notar a sustentabilidade financeira do time do Allianz Parque, que atingiu quase R$1 Bilhão de Receitas de Futebol em 2021. O número expressivo também se refletiu na linha final, rendendo ao clube mais de R$200 Milhões nos dois últimos anos, com margem bem acima de seus concorrentes paulistas, fruto de uma boa gestão palmeirense. Apesar disto, o clube também possui alta dependência da venda de atletas, assim como destacado em um dos gráficos. Este problema é difícil de ser resolvido como apontado anteriormente neste texto, trazendo um risco muito grande às receitas dos clubes, como ocorrido com Corinthians em 2021 que recebeu apenas R$28 milhões de reais.
Em suma, investir em um clube de futebol é bem arriscado da maneira que é hoje. As margens de Corinthians, São Paulo e Santos chamam zero atenção de um investidor. Precisaria de uma reviravolta de gestão para torná-los mais próximos do modelo palmeirense, que entrega bons resultados em campo e fora. É possível notar isso pelo baixo gasto com despesas financeiras do clube. Por outro lado, o futebol no Brasil é um terreno fértil, assim como as SAFs estão mostrando recentemente. O investidor tem apetite para isso, mas a casa precisa estar mais arrumada.
Fontes
Brasil
acumula R$ 14 bilhões em transferências na última década - Lance!
O
impacto econômico do futebol no Brasil: Uma paixão que movimenta bilhões
(folhadelondrina.com.br)
20191213172843_346.pdf
(cbf.com.br)
Balanço Patrimonial dos Clubes
16847692090aa2ebf701adab64a123a01be6dcc018.pdf (corinthians.com.br)
balanco-2022_demonstracoes-financeiras-e-relatorio-dos-auditores.pdf (saopaulofc.net)
2022-Balanco-Auditado.pdf (santosfc.com.br)
REPRINT-PALMEIRAS_2045_23.pdf (sep-bucket-prod.s3.amazonaws.com)
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