Brasil e o mundo das commodities
Brasil e o mundo das commodities
Neste artigo trago um pouco sobre
um mundo pouco conhecido, estando no limite entre a economia real e o mercado
financeiro. Do campo e das minas ao redor do mundo, se transformam em alimentos
ou insumos para produção de aço, casas, vidros e carros. Sendo de extrema importância
para boa parte dos países subdesenvolvidos, as commodities compõem uma grande
parte das transações financeiras e comércio internacional do mundo. Os portos
brasileiros são fruto disto. Todos os dias partem diversos navios de soja,
milho e minério de ferro, com os mais diversos destinos. Somos conhecidos como
o celeiro do mundo e o principal parceiro comercial chinês no assunto.
Uma commodity pode ser
definida por ser um produto primário e homogêneo, que usualmente é considerado
matéria prima para produção de outros bens de maior valor agregado. Existem
vários exemplos para tal, como café, trigo, soja, milho, minério de ferro, entre
tantos outros. Estes produtos são transacionados tanto de maneira física como
em forma de derivativos financeiros, nas mais variadas bolsas do mundo. Se dividem
em diversas categorias, como metálicas, agrícolas e energéticas.
Algumas das principais bolsas
são:
- CBOT: Chicago Board of Trade -
Responsável pela operação das principais commodities agrícolas do mundo, como
milho, soja e trigo.
- LME: London Metal Exchange
- Responsável pela operação das principais commodities metálicas, como
alumínio, cobre, níquel e zinco
- ICE: Intercontinental
Exchange - Responsável pela operação de commodities agrícolas, como açúcar
e café; e de commodities de energia, como petróleo e gás natural.
- NYMEX: New York Mercantile Exchange
– Responsável pela operação de commodities metálicas como ouro prata e cobre,
além de gás natural e petróleo.
Estas bolsas (exchanges)
foram criadas pela necessidade de produtores e consumidores em travar preços
futuros de seus produtos ofertados ou demandados (o chamado hedge). Em
um primeiro momento, o mercado era apenas transacionado à vista, ou seja,
estoques eram formados e a demanda surgia no momento inicial, sem pensar no
futuro. A necessidade cria a oportunidade, e aqui não foi diferente. Como
exemplo, a NYMEX tem seu início em 1872, a partir de uma bolsa formada para os
produtores de manteiga e queijo de Nova York. Ou seja, os produtores
necessitavam negociar sua produção e os consumidores comprarem. E como em todo
lugar que tem dinheiro, surgem os especuladores, os chamados traders,
responsáveis por conectar as pontas e tirar proveito das variações de preço. O livro
The World for Sale: Money, Power and the Traders Who Barter the Earth`s Resources,
mostra a história de muitos dos famosos traders de commodities
que costuraram negócios dos mais diversos (e curiosos) ao longo do tempo.
O curioso, é que o Brasil, figura
como um dos maiores produtores de commodities do mundo com soja, milho,
açúcar, minério de ferro, entre outros, mas não possuí uma bolsa
significativamente forte. E como fazemos? Utilizamos as bolsas ao redor do
mundo para definirmos o valor de nosso produto.
História Econômica do Brasil e
Commodities
Sendo a principal fonte de
receita de nossa balança comercial, correspondendo à cerca de 65% de nossas
exportações, as commodities desenvolveram papel importante em nossa
história desde a época colonial. Em um período inicial, aos que se lembram da
escola, desenvolvemos o plantio de cana de açúcar, que abrangia toda a costa
brasileira. Em seguida, a corrida pelo ouro e mais recente, ao redor de 1900, o
café. Este último, foi o grande responsável pela nossa industrialização a
partir do acúmulo de capital dos agricultores e inclusive esteve representado
no escudo de nossa seleção brasileira de futebol.
E o café ainda possui uma
história curiosa. Com a quebra da Bolsa de Nova York em 1929, os preços das commodities
despencaram. A crise era severa no mundo todo e a redução da demanda era
terrível para um país que produzia praticamente todo o café necessário para o
mundo. A solução? Queimar estoques de café para manter a oferta controlada. O
governo, portanto, pagou os agricultores e queimou café de 1931 à 1944, gerando
efeitos perversos para as despesas do Estado.
Produção de Café (Brasil e Mundo) – Milhões de
sacas
A partir de 1970, temos então a soja. À época, o Brasil surge como uma opção à entressafra Norte-Americana, tendo uma produção invertida em termos sazonais. Algo muito bom para o Brasil, dado que os preços costumavam ter comportamento altista. Ao longo do tempo a soja foi se tornando algo importante para a Balança Comercial brasileira, com destaque para o período do superciclo das commodities puxado pela China a partir de 2002. Outras commodities também se beneficiaram de maneira expressiva com o crescimento chinês (e por consequência do mundo), sendo elas o minério de ferro e petróleo. O minério, presente em nossa balança comercial desde 1986, aparece hoje entre as principais commodities exportadas pelo país, representada principalmente pela figura da mineradora Vale. O caso do petróleo, também é representado por um gigante nacional, a Petrobras.
Evolução das Exportações
Exportações em valores - US$ Bilhões FOB
Fonte: MDIC
A evolução da representatividade
destes produtos é perceptível pelo gráfico acima. O milho, praticamente inexistente
em 2000, se tornou importante em 2022, passando as exportações de açúcar e
café. Enquanto isso, batemos números impressionantes da exportação de petróleo
e soja. O problema disso? Somos altamente dependentes dos preços ligados aos
mercados internacionais. Estes produtos corresponderam à 44% de todas nossas
exportações em 2022. No fim, o Brasil precisa dar o próximo passo. Ou seja, agregar
valor aos produtos básicos, exportando produtos de maior valor agregado. Claro
que as commodities não perderam seu valor, mas quanto maior a dependência
de algo, pior, assim como o enfrentado pelo Brasil no período do café.
Fontes
Memorial
da Democracia - Governo incinera estoques de café
Commodities: o que são, por
que o Brasil é destaque e como investir nelas (warren.com.br)
Comex Stat - Exportação e
Importação Geral (mdic.gov.br)
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