Educação e a Teoria da Sinalização

 


Uma pergunta que nos fazemos sempre... Será que vale a pena estudar? Uma pergunta complexa. Toda vez que alguém monta um negócio vindo do zero, sem estudo, defensores da abolição às universidades aparecem. Sempre dizem, o Mark Zuckerberg largou a faculdade... E eu respondo, se você criar o Facebook, também pode largar. A verdade é, está mais difícil as universidades acompanharem a evolução da sociedade e por isso acredito que o questionamento surja. Será que um MBA de mais de US$200k vale a pena? O gasto traz realmente o retorno? Não acho que é uma ciência exata.  Os estudos de economia quebraram a cara durante a pandemia e continuam a quebrar, não existe modelo que possa explicar ou prever o que passamos, economicamente falando. Mas abolir o estudo? Algo muito forte. A educação traz muito, além até mesmo do que o próprio aprendizado. A questão social ou as atitudes que nos ensina a ter frente a vida.

Existem algumas vertentes da economia que se propuseram à entender a questão da educação. A primeira delas tem a ver com o acúmulo do capital humano, ou seja, o aprendizado em si, na qual a educação se torna produtividade. A segunda delas, vem da sinalização (modelo de Spence), na qual, a educação é um sinal de que alguém é inteligente ou habilidoso para tarefas e não necessariamente um impulsionar de produtividade ou conhecimento, a pessoa já seria mais produtiva. Estudar mais nesse caso seria uma sinalização de que você é na verdade uma pessoa produtiva. Fazer um mestrado em economia por exemplo, não quer dizer que esta pessoa saiba mais de economia, mas sim uma sinalização de qualidades que ela tenha, como disciplina, determinação e inteligência. Eu particularmente acredito nas duas, mas tendo a crer um pouco mais na segunda. Uma faculdade melhor te faz um profissional melhor? Não necessariamente. Mas, na verdade, quem fez a melhor faculdade, já pode ser na verdade alguém “melhor”. Leia “melhor”, como alguém mais determinado, por exemplo. Claro que não entremos no mérito da disponibilidade de oportunidades, algo desigual em nosso país.

Modelo de Spence (1973)

Para Spence existem duas linhas de custos (vermelha e azul) da educação. Para profissionais de alta produtividade o custo de se estudar é mais baixo (pense de maneira intangível), enquanto para o de baixa produtividade mais alto (linha vermelha). Dada esta restrição, trabalhadores mais produtivos escolheram estudar y*, para então receber um salário 2, com um lucro de 2 menos seu custo de se estudar, denotado pela linha reta vertical c. Enquanto isso, o trabalhador menos produtivo escolherá y = 0, pois receberá 1 de salário e terá um resultado apurado pela reta vertical b. Ou seja, trabalhadores que conseguem já produtivos sinalizarão sua produtividade pelos anos de estudo, concluindo assim a ideia da teoria da sinalização.

Gráfico de salário vs Anos de educação - Representação


Fonte: ECONOMIA DOS RECURSOS HUMANOS - ppt carregar (slideplayer.com.br)

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A verdade é que a teoria da sinalização é algo muito importante no mercado de educação e trabalho. Na minha área de economia por exemplo, se você não possuir Doutorado em Economia, nem se atreva em tentar ser um economista chefe em algum lugar prestigiado, a seleção inicial não lhe deixará passar. Mas será mesmo que um Doutor em Economia, sabe mais que um Mestre? Eu particularmente não acho uma pergunta trivial. Da mesma maneira que processos seletivos para estágios selecionam por faculdade. Quer dizer que este aspirante profissional sabe mais que outro, por conta da faculdade? Não, até porque muitas das coisas que trabalhamos, nunca vimos ao longo da graduação ou pós-graduação. Por outro lado, uma melhor faculdade sinaliza o que a pessoa passou para estar ali. Não é novidade para ninguém que entrar em uma faculdade pública como a USP, exige muito. Muita disciplina, dedicação, deixar o lazer de lado, entre outros. Ou seja, sinaliza algumas habilidades que este aluno tenha, o que importa muito mais do que seu conhecimento. Atitude não se ensina, mas tarefas sim.

É verdade, que existem externalidades negativas destes processos levados pela sinalização. Deixa-se de fora alguns excelentes alunos ou profissionais, por se aproveitar de um “pré-conceito”. Mas também não se pode culpar as empresas, visto que a sinalização é uma forma de facilitar e chancelar suas escolhas. O melhor seria alguém que pudesse avaliar 10.000 pessoas de todos os backgrounds possíveis, escolhendo o melhor profissional, mas isso não é possível, custa muito tempo e muito dinheiro, além de não sermos capazes de avaliar adequadamente alguém com meia hora de conversa. Por isso a sinalização é tão importante.

Mas ela é a única coisa? Claro que não. Sabemos muito bem que algum aprendizado tem que ser carregado. Ao longo da história, países que investiram em educação se saíram muito bem, ou seja, nem tudo é apenas sinalização. O capital humano é sim importante. Somos dentro do reino animal, um dos poucos, senão o único ser que é capaz de passar tanto conhecimento de geração para geração, e por isso evoluímos tanto. O caso de Coréia do Sul e Brasil é um dos mais comentados dentro da economia. Ambos os países possuíam PIBs per capita muito semelhantes ao redor de 1960, mas hoje o Brasil fica muito atrás. Claro que existiram muitos fatores, mas a educação certamente foi algo muito importante, sendo hoje um dos países mais tecnológicos do mundo, berço da Samsung e Hyundai, dentre outras grandes empresas com tecnologia de ponta.

Em conclusão, acredito que estudar ainda é a melhor opção seja pela sinalização ou pelo conhecimento. Largar a faculdade e montar o Facebook ainda parece para poucos. O que  se deve tomar cuidado é sobre a sinalização, pois ela é importante. Estudos da faculdade de Carnegie apresentaram que apenas 15% do sucesso financeiro vem das habilidades técnicas. Ou seja, habilidades de comunicação e emocionais que vão muito além do acúmulo de conhecimento. Uma ideia bem apresentada tem seu valor. Um diploma bem redigido e um currículo bem construído tem seu valor. E como diria Daniel Kahneman abaixo...

"People would rather do business with a person they like and trust rather than someone they don’t, even if the likeable person is offering a lower quality product or service at a higher price."

Fontes

Teria a Coreia do Sul se inspirado em Roberto Campos? - Época (globo.com)

The Most Important Skill Every Successful Leader Must Have - crowdspring Blog

Job Market Signaling on JSTOR







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